então, semana passada foi muito louca, fui parar no hospital com icterícia, acharam que era hepatite, febre amarela, hiv, sífilis, consumo abusivo de substâncias ilícitas, uma doença autoimune rara ou uma pedra que migrou da minha vesícula deformada, nas palavras de um cirurgião, pro canal do pâncreas
depois de uma duas dezenas de exames, a última hipótese se confirmou, o que levou a dois procedimentos cirúrgicos na última sexta: uma colecistectomia (remoção da vesícula biliar) e outra, mais perigosa, pra remover a pedra do canal
a perigosa deu ruim, tive um sangramento no fim de semana; urrei de dor como jamais tinha feito na vida no sábado, desmaiei no banheiro domingo, tendo que ser resgatado numa maca, nu em pelo, por três enfermeiras
na segunda, fiz novos exames, descobri que estava com anemia e precisava ir pra uti pra receber duas bolsas de sangue e fazer nova endoscopia pra ver onde sangrava
não acharam onde sangrava, mas acharam onde sangrou
saí da uti na terça — uma experiência tétrica — e fiquei em observação pra ver se os níveis de hemoglobina no sangue se mantinham em 7 (quadro de anemia moderada); hoje estavam em 7,2 — passei raspando, tô em casa, anêmico ainda, mas já desconfio que talvez sobreviva
nesse pequeno inferninho, pensei muito na vida, descobri que existe um nível de ansiedade em que não dá pra transformar o sofrimento físico e psíquico em piada no tuíter e que, nessas horas, é muito mais importante ter ao seu lado, todas as noites, ao pé da cama, no desconforto do sofá do quarto hospitalar, uma pessoa que, por motivos inexplicáveis, te ama demais & buscar mais apoio dos amigos que das arrobas
teria sido muito mais difícil passar por essa sem isso — amo vocês, gente, todos que mandaram mensagens de carinho & apoio, com aquela preocupação mal disfarçada, todos os dias em que estive lá, angustiado, fragilizado e com a barriga cheia de incertezas sobre tudo
ao longo desses nove dias, questionei muitas escolhas de vida e tive ganas de mudar muita coisa quando, e se, conseguisse colocar os pés na rua de novo
mas não transformei nada disso em resoluções de fim de ciclo
hoje só quero me cuidar um pouco mais, reclamar um pouco menos, e demostrar mais o carinho que sinto por um mundaréu gente
obrigado por tudo
Discussion about this post
No posts
Estou torcendo muito pela sua recuperação! Admiro demais os seus textos e sua persona no twitter. Grande abraço!